Faltavam dez minutos

para o dia nove de Março, mas eu queria nascer no dia da Mulher. No dia mais lindo ano! Dia 8 do mês da Primavera!!!

A 23 de Maio de 1974

chegou, um mês atrasado para a revolução, o meu irmão Carlitos. Gordo e grande, um rapagão!

Foi nessa altura que os meus pais arranjaram uma casa, em S.Pedro perto de Sta Eufémia.

Lembro-me de ouvir a minha mãe contar que uma das grandes preocupações com o meu irmão quando ele era miúdo, foi que ele tinha o freio da lingua colado, e então ela andou nos médicos e enfermeiras a dizer que ele não punha a lingua de fora como os outros meninos. Até que um a ouviu e fez uma pequena cirurgia que soltou a lingua ao Carlitos. Hoje em dia, isso faz-se mal o bebé nasce, acho.

Mas os problemas (porque para a minha mãe tudo era um problema terrível) não acabaram por aí, o menino era gago, como o avô materno!! Muitas lágrimas choradas depois, o meu pai, com a sua grande mão de carpinteiro, certa vez quando o meu irmão tentava dizer alguma coisa, balbuciando silabas imcompreensíveis, resolveu o problema acentando-lhe de surpresa uma bofetada curativa de gaguez... O que é certo é que o meu irmão nunca mais gaguejou!!

Não sei como, nem onde os meus pais se conheceram.

Só sei que o meu pai, teria casamento arranjado com uma prima, como era normal na altura, para manter a fortuna na família; mas nem um nem outro queriam cumprir os desejos dos pais.

Sei que namoravam quando o meu pai embarcou para Moçambique, para lutar ou preservar a paz em Téte, estavam no ano de 1970.

Volta em 1972, e casam-se a 2 ou 4 de Dezembro desse ano! Durante a longura, mandavam cartas e fotos queridinhas um ao outro, trocando estórias e noticias...

Outros tempos...

Vão viver para casa da minha avó Maria, mãe do meu pai, logo Sogra da minha mãe!! Não é que se dessem mal, mas lembro-me de ouvir a minha mãe dizer que não foram tempos fáceis, porque não era a sua casa. Agora entendo o que quer dizer!

Sou saloia até à sétima geração...

...ou sei que o sou há duas gerações pelo menos.

De minha avó materna, Angélica de Jesus Carvalho, só sei que nasceu na aldeia de Almoçageme em 1908. Foi caseira no Convento dos Capuchos onde nasceram os meus tios e minha mãe, a última de seis, Maria Beatriz de Jesus Faria.

Maria Vitória Baleia Bruno, mãe do meu pai, nasceu no lugar de Almorquim, nos vales profundos a caminho de Mafra. O meu pai, o último de três irmãos, Miguel Baleia Bruno, vem a nascer em Alvarinhos, São João das Lampas.

Dos meus avôs, nada sei, se não, como morreram! Por isso, e como não fazem parte das minha memórias, não vou lembrar de coisas que foram memórias de outros!